Mulheres, ciência e o futuro do Agro - Produzindo Certo
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Mulheres, ciência e o futuro do Agro

Agricultura, substantivo feminino. Pecuária, substantivo feminino. Agronegócio, substantivo masculino. Gênero, aqui, é mera convenção linguística. Produzir mais e melhor independe do artigo que os antecede.

Ainda assim, é sempre importante destacar o fato de mulheres ocuparem posições inéditas em postos de liderança em governos, entidades, empresas e organismos com protagonismo em nosso setor. Mais do que homenageá-las pelo seu mérito, que não é pouco, é necessário fazê-lo para incentivar tantas outras a ousar e perseverar – até que a presença feminina no topo seja algo tão corriqueiro que não seja mais notado.

Na Embrapa, por exemplo, há um formidável contingente feminino de cientistas, pesquisadoras, técnicas, gestoras, cujas contribuições para a construção desse centro de excelência global para o desenvolvimento da agropecuária nem sempre foram devidamente reconhecidas.

Apenas agora, às vésperas da comemoração do seu cinquentenário, a empresa estatal de pesquisa e ciência agropecuária terá uma presidente. Indicada pelo ministro Carlos Fávaro, a pesquisadora Silvia Massruhá deve assumir a função nas próximas semanas.

Trilha, assim, o caminho de outras pioneiras recentes. Na Esalq-USP, maior escola de Ciências Agrárias do País e uma das mais importantes do mundo, Thais Maria Ferreira de Souza tornou-se, no ano passado, a primeira diretora em 122 anos de história.

Pouco antes, em 2020, a pecuarista Teresa Cristina (Teka) Vendramini assumiu a presidência da Sociedade Rural Brasileira (SRB). Também era a primeira, e apenas 101 anos depois da fundação da tradicional entidade.

Elas chegam por mérito. Avançam porque são suficientemente qualificadas para superar as barreiras impostas a todos em qualquer carreira – e mais algumas que são exclusivas do universo profissional das mulheres.

O futuro no cotidiano

A nomeação de Silvia para o comando da Embrapa é relevante para as mulheres do agro e nos leva a lembrar de nomes cujo trabalho científico ajudou a moldar os atuais modelos de produção sustentável.

Johanna Döbereiner (1914-2000), Ana Maria Primavesi (1920-2020), Veridiana Rosseti (1917-2010) e Leila Macedo, por exemplo, lançaram as bases para conceitos hoje aplicados com sucesso como a fixação biológica de nitrogênio, manejo ecológico do solo, utilização de insumos biológicos e controle de doenças como as da citricultura, respectivamente.

Graduada em Análise de Sistemas pela PUC de Campinas, com mestrado em automação pela Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e doutorado em Computação Aplicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Silvia é a pessoa certa no momento certo.

Não haverá produção responsável se não houver tecnologia capaz de oferecer ao produtor rural conhecimento pleno de cada palmo de sua propriedade. Nos últimos dois anos, no comando da Embrapa Agricultura Digital, Silvia liderou projetos justamente na conexão do que há de mais moderno na computação com a produção agrícola.

Temas como Inteligência Artificial, aprendizado de máquina, mineração de dados têm feito parte do seu cotidiano.  Estarão cada vez mais na pauta da Embrapa, que, com ela, tem tudo para entrar em uma nova etapa de protagonismo na proposição de soluções para o futuro sustentável do agronegócio. Certamente farão parte, em breve, do dia-a-dia do produtor.

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