O que o mercado quer do agro? - Produzindo Certo
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O que o mercado quer do agro?

Se a demanda no mercado por commodities crescer em ritmo mais lento, a transformação verde no campo deve se acelerar, com o cuidado na origem dos insumos e práticas com menor impacto ao meio ambiente

Dados divulgados pela Agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelam que a produção agrícola seguirá se expandindo nos próximos dez anos, mas o ritmo será mais lento que a década passada. O Brasil continuará como protagonista no fornecimento global de alimentos, mas nossos clientes mundo afora exigirão de nós uma produção cada vez mais responsável.

As projeções do relatório da FAO e da OCDE sobre perspectivas agrícolas 2021-2030 foram publicadas no início julho e indicam que a produção no campo deve crescer 14% na América Latina no período. Já o valor líquido de exportações deve aumentar em 31%, um pouco mais da metade da taxa alcançada entre 2011-2020.

Ainda como um dos principais compradores de grãos e carnes, a China deve desacelerar sua demanda em função da diminuição do crescimento da população, saturação no consumo de alguns insumos e ganhos de eficiência da própria produção.

Para a produção mundial de carne, a expectativa de crescimento é de apenas 6%. Na China, o consumo de carne subiu 35% na última década, e a expansão projetada para os próximos 10 anos é de 8%.

No Brasil, diz o estudo, a produção de carne bovina deve se manter estável, mas a exportação avançará 38% e fazer do país o maior exportador global, com fatia de 22% do mercado. O Brasil também continuará dividindo com os EUA a liderança do mercado da soja.

Em dez anos, a América Latina pode alcançar 63% das exportações mundiais de soja, 56% de açúcar, 44% de pescado, 42% de carne bovina e 33% da venda internacional de carne de frango.

Onda verde se acelera

Estimulados por exigências cada vez maiores de países da Europa e mesmo asiáticos, incluindo a China, os produtores atentos e preocupados com a produção de alimentos em equilíbrio com o meio ambiente e respeito às pessoas terão uma importante fatia desse mercado nos próximos 10 anos.

O avanço de mecanismos com os títulos verdes (green bonds), comprovam que o setor tem um grande espaço para o desenvolvimento da agricultura sustentável. O Brasil ainda tem uma participação tímida na emissão global de green bonds, mas esse cenário está em transformação.

Segundo a CBI (Climate Bonds Initiative) , o financiamento rural por novos instrumentos de mercado está em ascensão e pode chegar a R$ 320 bilhões nos próximos três anos – e injetar até R$ 700 bilhões na agricultura brasileira em uma década.

Além disso, em um mercado que cresce menos, o diferencial competitivo pode estar nos fatores produtivos. A produção de soja cerificada RTRS (Round Table on Responsable Soy) cresceu aproximadamente 20% em 2020, reforçando que a produção sustentável vem ganhando espaço e destaque e se tornando um pilar estratégico no panorama global de grãos.

O setor produziu 4,6 milhões de toneladas em uma área de mais de 1.266.000 hectares. O Brasil encabeçou a lista dos países com maior produção de soja certificada, com aproximadamente 3,7 milhões de toneladas.

Ainda há um longo caminho pela frente, mas o cenário futuro demonstra que a demanda só deve crescer. As nações mais desenvolvidas do mundo também buscam uma retomada econômica pós-pandemia em bases mais responsáveis.

A Comissão Europeia lançou o Acordo Verde Europeu, que prevê tornar os países do bloco neutros em emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2050, proteger habitats naturais e melhorar o bem-estar das pessoas, entre um vasto leque de objetivos de sustentabilidade.

Tendências como mais demanda por fibras vegetais podem repercutir em aumento da demanda por soja, milho, grão de bico e outros insumos, segundo Leticia Gonçalves, que preside o segmento de Global Foods da ADM, em entrevista ao jornal O Globo. Segundo ela, o mercado da proteína vegetal cresce 14% ao ano e deve chegar a US$ 30 bilhões por ano em 2030.

O pós-pandemia, com maior atenção dos consumidores sobre a origem dos alimentos, aumento das refeições mais saudáveis e feitas em casa – também contribui para o cenário de aumento da produção de alimentos de forma responsável. Quem caminha nessa direção está na dianteira do mercado.

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