O Nobel que alimenta o mundo - Produzindo Certo
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O Nobel que alimenta o mundo

Vamos direto ao ponto: Alysson Paolinelli, agrônomo mineiro de 84 anos, presidente da Abramilho, ex-ministro da Agricultura, pai da Embrapa – e aqui pode-se somar muitos outros atributos – é um legítimo aspirante ao Prêmio Nobel da Paz em 2021. Sua indicação, feita com apoio de mais de 119 entidades e instituições científicas de 24 países, é uma reafirmação da moderna agricultura tropical brasileira, construída sobre sólidas bases científica e de sustentabilidade.

Paolinelli plantou as sementes de um modelo produtivo de escala global, que transformou o Brasil e ajudou a criar alternativas viáveis para atender a demanda de alimentos crescente em todo mundo. Não se trata, no entanto, de produzir a qualquer custo. Ao promover uma corrida científica pela adaptação de commodities de clima temperado ao ambiente tropical, Paolinelli indicou que o caminho teria de ser percorrido com o uso de práticas de conservação de solo e de gestão responsável de insumos.

Exemplos claros disso são o plantio direto, que ganhou impulso no Brasil nos anos 1980, e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), hoje visto como uma das soluções mais relevantes para fazer da agropecuária uma atividade sustentável e neutra em termos de emissão de gases de efeito estufa.

Paolinelli é um semeador cujo trabalho merece reconhecimento global. Quando assumiu o Ministério da Agricultura, em 1975, éramos importadores de commodities agrícolas. O que aconteceu de lá para cá, a partir do que ele plantou, é impressionante.

Como ministro da Agricultura, nos anos 1970, comandou o desenvolvimento da agricultura tropical, que transformou o Brasil, de importador de alimentos, na maior potência do agronegócio mundial, exportando para cerca de 200 países.

_Mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo consomem alimentos produzidos com base no agro brasileiro

_Nos último 50 anos, graças às novas tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e outras instituições, nossa produtividade agrícola cresceu 207%.

_6,4 vezes mais grãos: A produção brasileira de grãos, que era de 39,4 milhões de toneladas em 1970, atingiu 251,9 milhões de toneladas em 2020. Isso em apenas 2 vezes mais área plantada: eram 32,8 milhões de hectares e agora são 65,2 milhões de hectares.

_Graças à eficiência da produção o Cerrado brasileiro mantém 54% de área com cobertura vegetal natural, sendo 35% protegidos por lei e vedados à exploração econômica.

Não se pode enxergar esses dados como uma conquista apenas nacional. A expressão segurança alimentar, tão em voga atualmente, tem sua origem na óbvia relação entre a fome e os conflitos e desequilíbrios sociais que ela provoca. Nesta semana, em uma reunião com os líderes dos países mais ricos do mundo, António Guterres, secretário-geral da ONU, expressou claramente como as coisas, infelizmente, funcionam, citando um exemplo claro de conflito alimentado (com o perdão do trocadilho) pela falta do que comer:

“No Afeganistão, onde 40% dos trabalhadores estão relacionados com a agricultura, as colheitas reduzidas jogam as pessoas na pobreza e na insegurança alimentar, tornando-as suscetíveis de serem recrutadas por grupos armados.”

O AGRO E O NOBEL

Não existe um prêmio Nobel da Agricultura ou da Alimentação, pelo menos com esse nome. Existe o World Food Prize, criado pelo americano Norman Borlaug, pai da chamada revolução verde, que é considerado o equivalente agro ao prestigioso  prêmio concedido pela Academia Sueca de Ciências. Paolinelli recebeu o World Food Prize em 2006.

Quando olham para os avanços que acontecem no campo das ciências agronômicas, os responsáveis pelo Nobel acabam encaixando, por assim dizer, o assunto em outras categorias, como química, economia e paz.

Em 1918, por exemplo, Fritz Haber ganhou o Nobel de Química por desenvolver um processo para sintetizar a amônia, posteriormente usado para criar toda uma classe de fertilizantes que estiveram no centro da chamada Revolução Verde, que tem Borlaug como protagonista. Foi essa transformação nos métodos de produção em larga escala, apoiada por insumos e pela evolução da engenharia genética, que levaram o americano a conquistar o Nobel da Paz em 1970.

Metade do que o mundo come hoje é produzido graças aos avanços de produtividade obtidos pelos fertilizantes. Pode por na conta de Haber, assim como a contabilidade atribuída aos esforços de Borlaug indicam que a sua Revolução Verde tirou mais de 1 bilhão de pessoas das tristes estatísticas da fome no mundo. Não é maior do que o impacto promovido pela revolução tropical brasileira.

Pesquisas e avanços científicos sobre plantas, muitas com impactos diretos no desenvolvimento de melhores processos agronômicos, assim como na Medicina e em outras áreas econômicas, já resultaram em reconhecimentos do Nobel em pelo menos 17 ocasiões ao longo do último século, laureando 20 cientistas de áreas como Fisiologia, Botânica e Genética.

Em 2020, pelo menos dois dos prêmios concedidos estão relacionados à produção de alimentos. As cientistas Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna receberam o Nobel de Química pelo desenvolvimento da técnica de edição genética conhecida como CRISPR-Cas9. Trata-se de o uso de uma enzima especial para fazer cortes precisos no DNA de células para adicionar (ou emilimar) sequências de genes e, assim, conferir a essas células uma função diferente. A técnica tem potencial de revolucionar a agricultura e a medicina, por exemplo.

Também em 2020, o Nobel da Paz ficou com a FAO, Organização das Nações Unidas para Alimentação. Aqui, o comitê do prêmio enviou uma mensagem ao mundo sobre a necessidade de fazer uma distribuição mais adequada dos recursos disponíveis, reduzindo a concentração nos países ricos e fazendo chegar os alimentos aos países mais pobres.

PECUÁRIA VERDE

O apetite do mercado pelos títulos verdes continua trazendo boas notícias para a produção sustentável no Brasil. A pecuária tem grandes desafios para enfrentar, mas a ação das empresas do setor em buscar modelos confiáveis de rastreabilidade do gado tem recebido incentivo de investidores. Marfrig e Minerva, dois dos maiores frigoríficos do mundo, que o digam.

A indústria do couro, por sua vez, se mobiliza para criar um mercado próprio para a venda de créditos da produção sustentável. Um projeto piloto nesse sentido começou a ser implantado por grandes empresas do setor, do campo às vitrines das marcas de vestuário e calçados. A PRODUZINDO CERTO participa desse movimento.

CRA VERDE

Um projeto inédito de financiamento a produtores comprometidos com as melhores práticas socioambientais deve ser anunciado na próxima semana. Acompanhe as redes sociais da PRODUZINDO CERTO para saber em primeira mão.

A ENERGIA DO LEITE

Nos Estados Unidos, a indústria do leite também se preocupa em buscar um modelo mais sustentável – e comunicar-se de maneira mais eficiente com o consumidor, preocupado com as emissões do rebanho. Um vídeo produzido para esse fim (em inglês) mostra que eles podem estar no caminho certo.

FIQUE LIGADO

A segunda edição da série de lives VOZES RESPONSÁVEIS AO VIVO vai tratar justamente da relação de empresas de diversos setores econômicos com o agro responsável. As quatro lives acontecerão no fim de março, mas você já pode saber o que vem por aí acessando o blog da PRODUZINDO CERTO.