O que levamos de 2021? - Produzindo Certo
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O que levamos de 2021?

5 fatos deste ano que vão impactar o campo nas próximas safras

Na complexidade de um ano, fazer um balanço é arte das mais difíceis. Há vários filtros possíveis, diversos ângulos que podem ser considerados antes de se avaliar o período como positivo ou negativo. A maneira mais simples de aferir o saldo de um período é verificar se saímos dele melhores do que entramos.

Para o agronegócio responsável, foco permanente dos artigos publicados na série Notícias Responsáveis, pode-se dizer, com base nesse critério, que 2021 foi um ano de avanços que serão lembrados por muitos anos. Diante de tantas adversidades enfrentadas pelo país (e pelo campo, em particular), como crise hídrica, irregularidade no fornecimento de insumos, entre outros, a resiliência do produtor rural foi mais uma vez posta à prova. E, novamente, ele se superou.

Segundo levantamento divulgado esta semana pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o PIB do agronegócio nacional (que engloba, além da produção agropecuária, as cadeias de insumos, a agroindústria e os serviços relacionados ao setor) deve encerrar o ano com um crescimento de 9,4% em relação ao ano anterior. Com isso, o segmento aumentará sua representatividade no PIB brasileiro para 29%, ante os 27% de 2020. Considerando apenas o que foi produzido dentro das porteiras, o crescimento foi menor, de 1,8%, mas ainda assim positivo.

Vivemos um momento ainda delicado no aspecto sanitário, convivendo com uma pandemia que cede lentamente. E mesmo dela tiramos lições proveitosas, que podem trazer benefícios futuros. O mundo olhou para si e viu a emergência de ser mais verde, de acelerar a descarbonização da economia, de valorizar quem contribui nessa missão. Aos poucos, a visão de que o agronegócio é mais parte da solução do que do problema quando se fala em redução de emissões vai ficando mais nítida para quem olha de fora. Programas como a ABC+, que estimula a agropecuária de baixo carbono, viraram pauta de conversas em círculos mais abertos, não apenas nas rodinhas do agro.

Diante desse cenário, tomamos o risco de apontar cinco fatos de 2021 que impactarão a produção responsável, de forma positiva, por vários anos à frente. A ver:

O apetite mundial por negócios com rótulo ESG cresceu de forma exponencial. O banco sueco Skandinaviska Enskilda Banken, estima que o mercado global de emissões de títulos verdes deve alcançar US$ 1,178 trilhão em 2021. Apenas no primeiro trimestre do ano, segundo levantamento do Bank of America, US$ 235 bilhões foram movimentados em operações desse tipo.

Em 2021, parte desses recursos irrigou o campo brasileiro. O setor se movimentou para se mostrar atrativo aos investidores e recebeu sinal positivo em troca. Empresas do agro como AMaggi, JBS, Marfrig, Suzano, entre outras, realizaram grandes emissões. E mesmo agricultores de menor porte conseguiram transformar os títulos verdes como uma alternativa mais vantajosa ao crédito rural convencional, como aconteceu com o CRA Verde.Tech. A operação, fruto de uma parceria da Produzindo Certo com a Traive e a Gaia Impacto, permitiu a sete produtores do Centro Oeste levantarem um total de R$ 63 milhões para o seu custeio agrícola, naquela que foi a primeira emissão de CRA pulverizado no mundo a receber o selo verde da Climate Bonds Initiative (CBI). A porteira está aberta, vem muito mais por aí. De acordo com a CBI, a agricultura brasileira, sozinha, tem o potencial de captar R$ 700 bilhões em títulos verdes até o fim desta década.

A ideia de que o produtor brasileiro possa ser um beneficiado com uma “safra” adicional em recursos provenientes do mercado de carbono ficou um pouco mais próxima de se tornar realidade após a realização a COP26. Uma das principais resoluções do evento foi a concordância dos países em regular o artigo 6º do Acordo de Paris, que previa a criação de um mercado global para a comercialização dos créditos de descarbonização.

Ainda há muito a se fazer para que esse mercado oficial – as transações já são feitas em ambientes paralelos – passe efetivamente a funcionar, como a própria regulação interna de países como o Brasil. Mas o avanço foi notável, já que havia descrença em torno de um consenso nesse aspecto.

A expectativa brasileira nesse campo é grande: um estudo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) estimou entre US$ 16 bilhões e US$ 72 bilhões o potencial de venda do país de créditos de carbono até 2030.

A COP26 foi um marco não apenas pelo acordo em torno do carbono, mas pela mudança de tom nos debates públicos e nas conversas de corredores. Executivos brasileiros que estiveram no encontro apontaram que, diferentemente das edições anteriores, desta vez havia consenso sobre a necessidade de passar das palavras à ação. Além disso, nunca antes a voz da iniciativa privada se fez tão presente, apresentando os compromissos corporativos de redução de emissões e, assim, ajudando a dar um tom mais objetivo e prático à conferência. As empresas têm pressa porque entendem o que o mercado quer (veja no item 4) e porque têm em suas contas o efeito dos prejuízos causados por eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes. E sua pressa acelera o mundo público também.

Ainda não estamos livres dela e as incertezas não nos permitem voltar ao mesmo estilo de vida que tínhamos antes de sermos surpreendidos pela pandemia de Covid-19. E, em alguns pontos, talvez nunca mais seremos os mesmos. Para especialistas na dinâmica dos consumidores, mudanças de hábitos ocorridas nos últimos dois anos devem transformar definitivamente vários mercados. A retomada gradual das rotinas públicas, em 2021, mostrou que o que eram antes tendências agora podem ser chamadas de nova realidade – e os especialistas em marketing já trabalham com ela no radar.

Uma pesquisa da Warc, uma das mais influentes consultorias em marketing do mundo, divulgada esta semana aponta que as mudanças de comportamento do consumidor nesse período é a maior preocupação dos executivos das empresas entrevistados. Entre os fatores que mais influenciarão as estratégias das companhias em 2022, segundo a pesquisa, as preocupações com a sustentabilidade aparecem em terceiro lugar.

Levadas ao mundo agro, essas questões podem ser traduzidas como produzir de forma mais responsável e ser mais transparente com as informações de cada processo da produção, do campo ao prato. O consumidor já pedia isso antes. Agora, passará a exigir.

Para fechar a lista, um convite: conheça o nosso movimento, junte-se a nós. Temos o orgulho de ter lançado essa ideia, que não pretende se limitar às 3 mil propriedades cadastradas na nossa plataforma. Uma campanha que nasce pequena, mas que tem a ambição de inspirar milhares de produtores a também dizer #EuProduzoCerto.