![](https://www.produzindocerto.com.br/wp-content/uploads/2021/07/produzindocerto-noticias-responsaveis-30.07-blog.png)
A onda de frio intenso castiga as lavouras e nos lembra que, se não podemos controlar o clima, devemos pensar em seguros agrícolas
Há semanas em que determinados assuntos dominam as conversas e fica difícil fugir deles. Vivemos uma delas. Falamos de frio e de olimpíadas. Temas que se unem nas madrugadas geladas, em que as transmissões dos Jogos de Tóquio mantêm muita gente acordada. No campo, o que tira o sono dos produtores é o clima, um inverno como há muito não se via, seja nos termômetros, seja nos impactos causados pelas geadas nas lavouras e pastagens de várias regiões.
O clima é apenas uma das tantas variáveis que transformam a atividade agropecuária tão desafiadora. Talvez seja a mais cruel, pois o produtor fica à mercê dos desígnios meteorológicos. É algo que não se controla. No máximo, mitiga-se seus efeitos.
![](https://www.produzindocerto.com.br/wp-content/uploads/2021/07/produzindocerto-noticias-responsaveis-30_02-1024x1024.jpg)
Eventos climáticos extremos têm outro poder além de provocar perdas extremas em diversas culturas. Elas reforçam o caráter de resiliência dos agricultores e pecuaristas, que não se dobram diante dos prejuízos. A intensidade do frio desta semana lembrou a muitos a grande geada de 1975, quando 80% dos cafezais do Norte do Paraná – então a principal região produtora no País – foram impactados de forma severa, fazendo com que muitos produtores locais migrassem para outras regiões ou para outras culturas. Muitos deles hoje lideram a cafeicultura em novas fronteiras. Outros, adotaram a cultura da soja e ajudaram a transformar as terras vermelhas paranaenses em campeãs nacionais de produtividade.
![](https://www.produzindocerto.com.br/wp-content/uploads/2021/07/produzindocerto-noticias-responsaveis-30_03-1024x1024.jpg)
VAMOS FALAR DE SEGUROS AGRÍCOLAS?
As imagens impactantes dos campos esbranquiçados pelo gelo chamam a atenção pela plasticidade. Mas também por ajudar a aguçar a percepção do risco associado à produção agrícola. Assim como as cenas da terra ressecada pelas estiagens intensas ou pelas matas calcinadas pelo fogo das queimadas, também intensificadas pela falta de chuva.
![](https://www.produzindocerto.com.br/wp-content/uploads/2021/07/produzindocerto-noticias-responsaveis-30_04-1024x1024.jpg)
Quando se fala em seguros agrícolas, levantamentos feitos mostram que os eventos climáticos são responsáveis pela imensa maioria dos sinistros e, consequentemente, indenizações pagas a produtores rurais. Um desses levantamentos, feito com base dos dados do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) entre os anos de 2006 e 2020, aponta que de um total de R$ 4,85 bilhões indenizados no período, nada menos que R$ 4,30 bilhões foram referentes a perdas com apenas três tipos de eventos: seca, granizo e geada.
![](https://www.produzindocerto.com.br/wp-content/uploads/2021/07/produzindocerto-noticias-responsaveis-30_05-1024x1024.jpg)
O PSR é apenas uma amostra do cenário do seguro rural, já que computa informações de apenas uma parte da área produtiva no Brasil. Em 2020, por exemplo, a área agrícola protegida no âmbito do programa foi de 13,7 milhões de hectares. Já a área total utilizada para a produção agrícola atualmente chega próxima de 65 milhões de hectares, ou seja, quase 5 vezes maior.
![](https://www.produzindocerto.com.br/wp-content/uploads/2021/07/produzindocerto-noticias-responsaveis-30_06-1024x1024.jpg)
Quando colocados lado a lado, as duas informações revelam um cenário preocupante: o setor agropecuário está cada vez mais ameaçados por eventos climáticos, mas com pouca cobertura por instrumentos que protejam as finanças dos produtores.
Não se trata de um problema novo. A esperança é que o frio intenso sirva agora como ignição para aquecermos o debate sobre o seguro rural. A começar por entender o que afasta o produtor de buscar esse tipo de proteção.
Algumas premissas importantes para esse debate:
- Em geral, os seguros agrícolas oferecidos são formatados com base em médias regionais de risco, e não de forma individual, avaliando a situação de cada produtor.
- A qualidade da gestão de cada propriedade rural raramente é considerada.
- Isso torna desvantajoso a contratação para quem investe em prevenção e boas práticas.
- Acionar os seguros, em caso de sinistro, nem sempre é simples para os produtores. E as coberturas, muitas vezes, deixam de ser feitas em função de detalhes que não ficam claros nas apólices.
![](https://www.produzindocerto.com.br/wp-content/uploads/2021/07/produzindocerto-noticias-responsaveis-30_07-1024x1024.jpg)
Hoje, felizmente, há mais olhos voltados para o agro em toda a sua dimensão – graças, em grande parte, ao impacto econômico positivo que o setor vem trazendo ao país. O interesse maior e uma compreensão mais ampla da natureza da atividade agrícola é fundamental para que mais recursos sejam destinados aos seguros rurais. E para que essa área se sofistique no atendimento às necessidades do campo.
A tecnologia tem também papel importante no necessário processo a democratização do seguro rural. Fintechs com sistemas avançados de análise de risco hoje têm condições de automatizar processos e oferecer uma visão individualizada dos produtores. Isso permite que seguradoras passem a formatar apólices sob medida para cada um deles, a partir de suas necessidades e com o custo proporcional ao seu risco.
Exemplo disso foi a operação CRA Verde.Tech, uma emissão de títulos verdes feita por sete produtores do Centro-Oeste – foi a primeira do gênero feita por um grupo de agricultores independentes. Viabilizada graças a um modelo desenvolvido em parceria pela Produzindo Certo, a Traive e a Gaia Securitizadora, a operação contou com seguros desenhados sob medida pela seguradora MunichRe para atender tanto ao interesse do produtor quanto o do investidor que adquiriu os títulos. Isso só foi possível em função da análise personalizada do risco socioambiental e climático das propriedades envolvidas.
![](https://www.produzindocerto.com.br/wp-content/uploads/2021/07/produzindocerto-noticias-responsaveis-30_08-1024x1024.jpg)
FOCO NO PRODUTOR
Colocar o produtor e seu modelo de gestão no centro desse debate é fundamental. Fazendas que adotam boas práticas socioambientais, por exemplo, são, por definição, menos expostas a riscos, seja no que se refere a embargos ambientais e trabalhistas, seja ao impacto de eventos climáticos.
Estudo da Universidade Federal de Minas Gerais apontou, por exemplo, que as propriedades integrantes da Plataforma Produzindo Certo nos biomas Cerrado e Amazônia reduziram em até 50% os focos de queimadas depois de aderirem a um programa de mitigação de incêndios.
Outras boas práticas como o plantio direto – em que a palhada deixada sobre o solo serve como um cobertor, reduzindo a perda de micronutrientes em casos de temperaturas extremas – ou a manutenção de proteção florestal junto a pastagens, amenizando o efeito de ventos frios sobre os rebanhos (clique aqui para acessar um guia com estratégias para a redução de danos pelo frio, recém lançado pela Embrapa Gado de Corte) , também comprovam o poder mitigador da produção responsável.
A indústria de seguros tem, assim, a oportunidade de criar um ciclo virtuoso em sua relação com o agronegócio. Ao tratar cada produtor como se fosse único e valorizar sua gestão, atrairá mais clientes. E, ao mesmo tempo, incentivará mais produtores a buscarem a excelência socioambiental que lhe permitirá pagar menos para ter mais segurança.