E hora de retribuir o que o Cerrado nos deu - Produzindo Certo
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E hora de retribuir o que o Cerrado nos deu

11 de setembro é o Dia do Cerrado, a região que mudou o agronegócio do Brasil, mas que enfrenta hoje grandes desafios

O 11 de setembro marca o dia do Cerrado. Se não há como pensar em atividade agropecuária sem falar sobre a região, também é importante reconhecer sua contribuição à economia (e não só aquela ligada ao agronegócio) e para o bem-estar das pessoas. E buscar enfrentar de forma aberta e franca os dilemas e desafios da região, como a recuperação de áreas degradadas, para garantir a manutenção dessa prosperidade.

A paisagem de savana engana os olhos. Ela esconde uma rica fonte de biodiversidade e o berço de bacias hidrográficas vitais para a geração de energia brasileira e para abastecimento da população. A região ajudou o agronegócio crescer quase 400% em 40 anos.

Não é exagero afirmar que o Cerrado, com seus recordes de produtividade, é responsável por elevar o Brasil ao posto de segundo maior exportador agrícola do mundo e de terceiro maior produtor agropecuário. Quase metade de tudo que o país vendeu no exterior no ano passado veio do agronegócio. 

Em uma região maior que o México, o coração Cerrado envolve Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, mas sua área se espalha por Bahia, Tocantins, Piauí e Maranhão (as novas fronteiras agrícolas, conhecidas como Matopiba), e ainda se faz presente em Minas Gerais e São Paulo.

Criada em 1975, a Embrapa Cerrados surgiu na esteira de uma política governamental de desenvolvimento do Centro Oeste, que fomentou a pesquisa agropecuária e o desenvolvimento de tecnologias para a atividade do agro na região. A partir daí foram desenvolvidas ou adaptadas técnicas de manejo dos solos, a exemplo do plantio direto e uso de implementos adequados, aumentando a infiltração da água e seleção de variedades de grãos e pastagens tolerantes que venceram desafios como a baixa fertilidade e acidez dos solos.

Passados quase 50 anos, o Cerrado deu retorno a esse investimento. É responsável, por exemplo, por 51% da soja brasileira – o Brasil é o maior produtor mundial do grão.

Em contrapartida, essa região protagonista da prosperidade do agronegócio também já perdeu mais da metade da sua cobertura original e pede agora por inteligência e avanço tecnológico na mesma grandeza para garantir sua fertilidade e manutenção das generosas safras agrícolas.

Há pouco mais de uma semana do início do período de semeadura da soja nos campos da savana brasileira, aproveitamos o 11 de setembro para chamar a atenção para esse ecossistema vivo e pujante, que vem sofrendo com o impacto de atividades humanas e com crises hídricas cada vez mais constantes.

É hora de retribuir o que o Cerrado proporcionou, buscando a produção mais sustentável, que mantenha a fertilidade do solo e a riqueza da biodiversidade. 

A seguir, apresentamos alguns fatos e notícias recentes sobre o bioma (que não é exatamente um bioma, aliás, como vai conferir logo abaixo).   

  • A região é muito estratégica. Os rios que nascem no Cerrado alimentam seis das oito grandes bacias hidrográficas do país, além do Pantanal. Suas águas abastecem boa parte da agricultura e da atividade industrial brasileira e cerca de 90% da população brasileira consome energia fornecida por alguma hidrelétrica cujas águas nascem nesse domínio. Dessa forma, proteger o Cerrado é essencial para evitarmos crises hídricas e apagões elétricos. Essas e outras curiosidades sobre o Cerrado, que não é um bioma, como muitos pensam, estão em um artigo, no G1, do biólogo Luciano Lima.
  • Riscos de involução. Há notícias, no entanto, que deveriam colocar em alerta quem vive e depende do Cerrado, como o risco da interrupção do monitoramento das áreas de desmatamento feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), por meio do Prodes e do Deter. Os recursos que garantiram o funcionamento dos sistemas nos últimos cinco anos foram viabilizados por uma doação do Programa de Investimento em Florestas (FIP), administrado pelo Banco Mundial, que se encerra em 2021. E, em difícil situação orçamentária, não há recursos no Inpe para o funcionamento dos sistemas após esse período. O órgão busca alternativas de financiamento ano no Governo Federal como em organismos internacionais, por enquanto, nada está garantido.

É importante lembrar que além de controlar o desmatamento, essa fonte é usada para provar a conformidade ambiental, uma garantia para o produtor responsável de que as áreas em que ele produz estão livres do desmate ilegal. O Prodes, inclusive, é um dos bancos de dados utilizados pela Plataforma Produzindo Certo.

A caixa d´água do Brasil

Por condições de relevo e localização, o cerrado é considerado a “caixa d’água” do Brasil. A bacia do rio Paraná, que alimenta a usina de Itaipu, depende diretamente de nascentes que se encontram nesta região, por exemplo. Seis das oito grandes bacias hidrográficas do país são abastecidas por rios que nascem no Cerrado. 

Ao menos 40% dos brasileiros são abastecidos por essas bacias que têm ligação com a região

Savana mais biodiversa

O Cerrado cobre quase um quarto do território brasileiro

Sua área total é maior que o México, com 2 milhões de km2

2º maior bioma do país, atrás apenas da Amazônia

25 milhões de pessoas vivem na região

Abriga 30% da biodiversidade brasileira

Uma das ecorregiões mais ameaçadas do mundo

Quase 50% de sua cobertura vegetal foi degradada em cinco décadas

Após queda em 2019, o desmatamento no Cerrado voltou a crescer em 2020, com alta de 12,3% em áreas abertas, totalizando 7,3 mil km2, especialmente no Matopiba

Cerrado é um dos dois hotspots do Brasil, termo para áreas de alta biodiversidade e que se encontram ameaçadas. O outro é a Mata Atlântica.

Esforços coletivos

Garantir a disponibilidade hídrica é um dos principais desafios hoje, com períodos de seca mais rigorosos. Em 2021, a país vive sua pior estiagem em mais de 90 anos e essas variações climáticas têm afetado a disponibilidade de água e, por consequência, a produtividade agrícola, além de se tornarem gatilhos para o avanço das queimadas.

Experiências que unem diferentes elos da cadeia produtiva e comunidades locais podem dar pistas sobre o caminho a seguir na busca de soluções. Uma delas é o Cerrado Waters Consortium, que trabalha desde 2015 com a cadeia do café no cerrado mineiro para promover uma agricultura mais responsável e ampliar as ações de conservação ambiental. A ação reúne a Nespresso, organizações ambientais e produtores rurais e mapeou seus impactos e dependências dos serviços ecossistêmicos e desenhar ações positivas de conservação socioambiental e geração de impacto econômico em uma atuação em nível de paisagem (landscape). 

Produzindo Certo no Cerrado

A Produzindo Certo tem forte atuação no Cerrado, onde estão 50,65% das propriedades acompanhadas pela plataforma. A empresa oferece assistência técnica aos produtores na adoção de boas práticas produtivas e no cuidado com áreas de preservação da vegetação natural. Além disso, a Produzindo Certo participa com organizações nacionais e internacionais de iniciativas que buscam levar o manejo rural adequado a mais fazendas e gerar conhecimento que subsidie novas ações e possam dar escala às iniciativas de promoção da sustentabilidade no campo.

No ano passado, uma ação do Soft Commodities Forum, que envolve as seis principais traders globais de soja, em parceria com o Instituto PCI, do governo o estado do Mato Grosso, e da ONG EDF (Environmental Defense Fund) selecionou e trabalhou junto com produtores de dois municípios mato-grossenses no desenvolvimento de seus diagnósticos socioambientais e em planos de melhorias desse desempenho. A ação faz pare do objetivo do SCF de criar sistemas alimentares mais seguros e sustentáveis e o conhecimento reunido também vai ajudar a endereçar novas ações do grupo em áreas do Cerrado brasileiro.

Um estudo em desenvolvimento busca gerar dados científicos sobre a contribuição de boas práticas agrícolas para manutenção de carbono no solo, disponibilidade hídrica e conservação biodiversidade. E, assim, criar um modelo econômico viável para estimular produtores de soja a adotarem as melhores práticas agrícolas via Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). O trabalho é financiado pela Aliança pela Floresta Tropical (TFA), plataforma do Fórum Econômico Mundial, e conta também com parceria do PSA Soja Brasil. 

No último mês de agosto, foi lançada uma nova iniciativa, dessa vez liderada por GIZ, agência de cooperação internacional do governo da Alemanha, pelo governo do estado do Maranhão e pela ADM buscando abrir caminho para a ampliação da produção responsável de soja nessa que é uma das novas fronteiras agrícolas do Brasil, na área de transição entre o Cerrado e a Amazônia.