A economia circular da Fazenda Rio Paraíso - Produzindo Certo
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A economia circular da Fazenda Rio Paraíso

Nascido em Vicenza, região noroeste da Itália, Alessandro Romio chegou ao Brasil em 1995, quando tinha entre 25 e 26 anos de idade, com a missão de averiguar o que havia de errado com a propriedade que pertencia a seu tio Aldo (irmão do pai, Silvio) e mais dois sócios. A fazenda de mais de 25 mil hectares, em Jataí (GO), parecia ser um excelente investimento, mas não estava dando resultado. “Eu vim mesmo pensando em vender tudo”, disse o agora produtor.

Ao perceber que o problema estava na má gestão, Romio propôs a si mesmo o desafio de permanecer dois anos no País para tentar reverter aquele quadro. “Esse período passou muito rápido, e vi que poderia ficar mais dois anos”, afirmou. Antes de iniciar o novo ciclo, Romio retornou à Itália, casou-se com a então namorada, Elisabetta, e cruzaram o Oceano Atlântico juntos. O novo biênio virou uma vida.

Após uma série de mudanças, incluindo negociação das terras que pertenciam aos demais sócios, o casal ficou com uma propriedade de 8 mil hectares, dos quais 2 mil são área de reserva, onde há mais de 20 nascentes preservadas por matas ciliares. Os outros seis mil estão ocupados com agricultura e pecuária.

A fazenda em setores

A parte agrícola conta com plantio de soja e milho de segunda safra, em cerca de 2,5 mil hectares, e cultivo de cana, que vai de 2,5 mil a 3 mil hectares. O espaço para cada cultura varia de acordo com as condições por safra, sejam climáticas, sejam de mercado.

“A dimensão dessas áreas é mantida nessas faixas, mas as culturas vão mudando de talhão”, explicou Romio. Segundo o produtor, é importante não manter uma mesma cultura por muito tempo no mesmo lugar.

“Caso contrário, acaba empobrecendo o solo, que é atacado sempre pelos mesmos fungos e bactérias. E você terá de usar os mesmos produtos para combatê-los”, justificou Romio, expressando sua preocupação com a saúde da terra e a sustentabilidade da fazenda, conceito que é ampliado pela conexão entre as atividades. Uma abastece a outra.

A produção pecuária é dividida entre bovinos de corte e suínos. Para tornar a gestão mais profissional, a área foi transformada em uma nova empresa, há pouco mais de dois anos. Dessa forma, cada segmento ganhou uma análise mais detalhada e mais criteriosa, evitando a necessidade de “tirar de um bolso para colocar no outro”, como define Romio.

O núcleo de gado de corte envolve as etapas de recria e engorda, da compra de bezerros até a entrega dos bois já terminados. São animais Nelore ou meio-sangue com Angus, mantidos quase que exclusivamente a pasto. A estrutura de confinamento é uma espécie de socorro para quando for necessário.

Segundo Romio, o prazo para que cada bovino fique pronto, da chegada à saída, é de no máximo um ano. São entre 3 mil e 3,5 mil animais por ano, que deixam a fazenda pesando cerca de 20 arrobas e são entregues aos principais frigoríficos da região: Marfrig, em Mineiros; Minerva, em Palmeiras de Goiás; e JBS, em Goiânia.

Para conseguir tal resultado, o produtor aposta em tecnologia, nutrição, acurácia na seleção dos bezerros, genética apurada, além da gestão eficiente em cada processo. “Se fizer uma boa compra de bezerro, a conversão de alimento tende a ser melhor, e a terminação acontece mais rápido”, explicou.

A produção de suínos é uma herança dos tempos de Itália, inclusive porque a compra da fazenda, lá no início, foi feita com a participação de uma empresa italiana que trabalhava com suinocultura. Quando Romio chegou em Goiás, já havia uma granja na propriedade, instalação que foi aprimorada e ampliada.

Hoje, a unidade tem capacidade para 500 matrizes e faz o ciclo completo de produção, de maneira independente. Os animais são negociados vivos diretamente com grandes açougues.

Alessandro Romio, proprietário da Fazenda Rio Paraíso

Economia circular e progressiva

O alto desempenho de cada atividade dentro da fazenda contribui para o sucesso das demais. Na parte de grãos, a produtividade é de 70 sacas de soja e entre 120 e 130 sacas de milho por hectare, desempenho favorecido pelo uso da vinhaça da cana como fertirrigação, reduzindo o uso de adubos químicos.

Esse volume de grãos vira matéria-prima para alimentar a divisão pecuária, tanto os bois quanto os suínos, e ainda rende subprodutos que vão para o mercado, como o óleo de soja.

Por sua vez, o setor de animais fornece os dejetos que servem como adubo biológico para a parte vegetal. Os dejetos do gado de corte ficam pelo pasto, assim como os resíduos líquidos retirados da granja. Já os dejetos sólidos dos suínos alimentam a produção de biometano, e esse biogás abastece a frota de carros leves da fazenda e um gerador de energia que atende a própria granja.

Romio ainda aproveitou uma represa que há na propriedade para a implantação de uma pequena usina hidrelétrica. E o produtor já planeja repetir a dose. Para ampliar o fornecimento próprio de energia elétrica, também houve investimento em placas solares.

Agora, o potencial de geração de energia está dividido em 150 kVa do biogás, 200 kVa da hidrelétrica e 500 kVa dos painéis solares. Essa última vai primeiro para a rede pública de distribuição. “Todo o conjunto de silos e secador e a parte de escritório são abastecidos por essas três fontes, e temos a flexibilidade de utilizar o que apresentar melhor disponibilidade”, afirmou Romio.

Além de energia, essa combinação toda gera uma economia anual de R$ 1 milhão. Ainda que se trate do valor bruto, pois cerca de 20% disso é o custo para manter a estrutura de produção de eletricidade, o número é altamente considerável.

“Sem essas fontes de energia, teríamos de pagar de R$ 80 mil a R$ 100 mil por mês”, disse Romio. “Além da economia financeira, temos o retorno ambiental e a possibilidade de olhar para outras oportunidades, como o mercado de carbono.”

Outra importante redução de custos veio com a instalação, há cinco anos, de uma biofábrica, para multiplicação de bactérias e fungos e produção de bioinsumos que combatem pragas e doenças nas lavouras e nas pastagens.

Embora não possa precisar qual foi a redução no volume de herbicidas, inseticidas e fungicidas químicos, Romio calcula que o impacto econômico, em diminuição de custo, fique entre 15% e 20%. “É um trabalho minucioso, delicado, mas que oferece um retorno muito interessante”, afirmou.

Toda essa transformação não acontece da noite para o dia, envolve todo um processo de aprendizado, avaliação de erros e acertos, orientação técnica, investimento e a disponibilidade para abraçar tal evolução. Sobretudo porque a cobrança mercadológica é cada vez maior, dentro e, principalmente, fora do País.

É nesse ponto que a Produzindo Certo faz a diferença na trajetória da Fazenda Rio Paraíso, com a aplicação de seus protocolos socioambientais para assegurar que a propriedade seja ainda mais sustentável.

Mais do que o aprimoramento confirmado pelas planilhas de controle do negócio, o impacto dessa relação é percebido pela validação do mercado como um todo, tanto por clientes como por fornecedores, e que pode ser ampliada. “É só uma questão de tempo para termos um reconhecimento ainda melhor”, definiu Romio.