Produzir mais, preservar os recursos naturais e ainda reduzir riscos econômicos. Essa é a proposta dos sistemas integrados de produção na pecuária, que estão ganhando espaço em diferentes regiões do Brasil. A Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) lidera essa transformação no campo ao combinar de forma inteligente diferentes atividades agropecuárias e florestais em uma mesma área.
“O Sistema ILPF chega hoje a aproximadamente 17,4 milhões de hectares, e seu potencial de expansão é enorme porque estima-se que o Brasil tenha cerca de 160 milhões de hectares de pastagens que podem ser convertidos para ILPF”, disse o presidente-executivo da Rede ILPF, Francisco Matturro, em um evento em São Paulo.
O modelo tem sido reconhecido não apenas por aumentar a produtividade, mas também por gerar benefícios ambientais importantes, como a recuperação de áreas degradadas e o sequestro de carbono.
Sustentabilidade e rentabilidade lado a lado
A principal vantagem da ILPF é a diversificação de fontes de renda. Enquanto a lavoura garante ganhos com grãos, a pecuária oferece retorno com a produção de carne ou leite, e a floresta agrega valor com madeira ou outros produtos florestais. Além disso, a interação entre os componentes aumenta a eficiência do uso do solo e dos insumos.
De acordo com a Embrapa, o sistema promove um ciclo virtuoso: a palhada da lavoura melhora a qualidade do solo, as árvores oferecem sombra e conforto térmico para os animais, e a pecuária contribui com a ciclagem de nutrientes. Isso resulta em maior produtividade por hectare e redução de custos com fertilizantes e suplementos alimentares.
“A integração lavoura-pecuária-floresta significa a emancipação do produtor. De que forma? Porque tem uma renda de curto prazo, que são as lavouras de grãos e cereais. Tem o gado no médio prazo e o componente florestal no longo prazo”, ressalta Matturro.
Benefícios ambientais e adaptação ao clima
Além do ganho econômico, os sistemas integrados trazem importantes vantagens ambientais. Entre elas estão o aumento da biodiversidade, a redução da emissão de gases de efeito estufa e a proteção dos recursos hídricos.
A adoção de práticas como a ILPF é apontada por especialistas como uma das soluções mais eficazes para fortalecer a resiliência das propriedades rurais. Segundo estudos recentes, os produtores que adotam sistemas integrados têm mostrado maior capacidade de enfrentar períodos de estiagem e de altas temperaturas.
Outras opções de integração para a pecuária
Além da ILPF, outros dois sistemas também merecem atenção dos produtores:
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Integração Lavoura-Pecuária (ILP): Sistema que alterna ou consorcia o uso da terra entre produção de grãos (como soja, milho ou sorgo) e pastagem para bovinos de corte ou leite. Melhora a qualidade do solo, reduz pragas e doenças, aumenta a oferta de forragem e proporciona ganho de produtividade em ambas as atividades. É indicado principalmente para produtores que buscam diversificação sem incluir o componente florestal.
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Integração Pecuária-Floresta (IPF): Também chamado de sistema silvipastoril, integra o cultivo de árvores com a criação de animais em pastagens. Proporciona sombra, redução do estresse térmico e bem-estar animal, o que resulta em melhor desempenho zootécnico. Além disso, gera renda adicional com a venda de madeira para construção civil e movelaria e contribui para a recuperação ambiental da propriedade, reduzindo a pressão sobre as áreas de vegetação nativa. O consórcio entre a criação de animais e o cultivo de florestas plantadas melhora o conforto térmico dos animais, aumenta a produção de madeira e auxilia no equilíbrio ambiental.
A escolha por qualquer um desses modelos traz benefícios econômicos, sociais e ambientais. Além de melhorar a qualidade das pastagens e o desempenho do rebanho, os sistemas integrados contribuem para a sustentabilidade da propriedade, aumentam a capacidade de resposta a eventos climáticos extremos e atendem às novas exigências de mercados que valorizam práticas agropecuárias responsáveis.
Por onde começar um sistema integrado na pecuária?
Faça um diagnóstico da propriedade – Avalie solo, clima, infraestrutura, área disponível e perfil do rebanho. Entenda os recursos que você já tem e o que precisa adaptar.
Defina o modelo de integração mais adequado – Escolha entre ILPF, ILP ou IPF com base nos seus objetivos, capacidade de investimento e características da fazenda.
Planeje o uso da terra e o cronograma de implantação – Organize como será a divisão das áreas, o espaçamento (se houver árvores), as culturas escolhidas, o manejo do pasto e o calendário de atividades.
Invista na correção e preparo do solo – Realize análise de solo, faça a correção necessária (calagem, adubação) e prepare o terreno para o plantio, o pastejo e, se for o caso, o componente florestal.
Acompanhe, ajuste e faça o manejo integrado – Monitore o desempenho da lavoura, dos animais e das árvores. Ajuste o manejo conforme a resposta do sistema, sempre com orientação técnica e profissional.
Fontes consultadas: