O discurso inspira, a lei impõe – mas às vezes não pega e vira letra morta. Mas as transformações reais, aquelas que ficam visíveis no cotidiano de pessoas e empresas, só acontecem de fato quando o mercado exige.
Quando se fala em produção agropecuária sustentável não é diferente. Não são palavras, nem reguladores que estão fazendo mover a roda do agro responsável, com a implantação, em milhares de propriedades rurais, de boas práticas socioambientais.
Sustentabilidade é, antes de tudo, uma questão de demanda, não de oferta. É o apetite das empresas e seus consumidores quem vai ditar o ritmo da adoção, em grande escala, de novos modelos produtivos.
Quem acompanha o cotidiano do produtor rural brasileiro percebe claramente o “efeito mercado” na evolução da produtividade e na implementação de tecnologias que permitem extrair mais valor de cada hectare com menor consumo de insumos e recursos naturais.
Mais forte que uma eventual resistência à mudança ou mesmo uma possível falta de vontade, a lógica econômica se impõe. Quando o mercado sinaliza que quer, valoriza e paga por um produto melhor e mais sustentável, o campo entrega.
No agronegócio brasileiro há exemplos emblemáticos nesse sentido. Talvez o mais evidente seja o chamado Boi China, em que uma exigência lastreada em questões sanitárias provocou uma transformação na pecuária brasileira.
Não porque alguém fez campanha, não porque era “bonito” ser sustentável. Mas porque havia demanda, preço e mercado – um cliente poderoso disposto a abrir suas portas, desde que o produto entregue atendesse às suas exigências de qualidade.
Resultado? O Brasil tem evoluído para uma pecuária mais intensiva, mais produtiva, com menor emissão por quilo de carne e menos pressão por abertura de novas áreas.
Outro exemplo é o de produtores de soja que têm buscado certificações como a RTRS, de soja responsável, cada vez mais um pré-requisito cobrado por importadores europeus. O Brasil já é hoje o país com maior volume de soja certificada pela entidade.
Também o boom do mercado de cafés especiais mostra como produtores melhoraram práticas, qualidade, rastreabilidade e até questões socioambientais para atender consumidores premium e, claro, obter remunerações melhores pelo seu produto.
Casos como esse evidenciam a capacidade do agronegócio brasileiro de responder rapidamente quando há demanda consistente e incentivos claros.
O campo não é resistente à mudança. Se há valorização real (não só discurso), os produtores se adaptam.
A sustentabilidade precisa sair do campo da retórica e entrar definitivamente no campo da demanda econômica.