
O evento mais aguardado do ano finalmente começou. A partir de hoje, Belém (PA) será o centro das atenções globais ao receber líderes de mais de 190 países para discutir o futuro climático do planeta. Pela primeira vez, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas é realizada no coração da Amazônia, uma decisão que, segundo Marcello Brito, Enviado Especial da COP30 para governos subnacionais amazônicos e secretário-executivo do Consórcio Amazônia Legal, carrega um simbolismo poderoso e uma oportunidade histórica.
“É muito salutar a realização da COP no Brasil, mas principalmente na Amazônia”, afirma Brito. “A oposição [à ideia] veio mais do Brasil do que de fora, o que mostra ainda um baixo entendimento da sociedade sobre a importância da Amazônia, que representa mais de 50% do território nacional”.
Para o executivo, realizar a COP30 em Belém é uma chance de ouro para o Brasil demonstrar que é possível alinhar desenvolvimento econômico e conservação ambiental a partir das florestas tropicais. Ele destaca que a região amazônica deve ser o palco de novos modelos de negócios sustentáveis, baseados em bioeconomia, inovação e transição energética.
“Ela [a economia do futuro] é diferente da economia produzida nos últimos 30, 40 anos. Essa não é replicável dentro da Amazônia. Na Amazônia surgirão modelos econômicos, baseados em economia verde, que serão adicionais ao sistema de desenvolvimento brasileiro”, explica.
“A mensagem para o mundo é que, dentro de uma estruturação de economia verde, a gente tem condição de desenvolver modelos socioeconômicos e ambientais baseados na transição energética tão necessária, a partir de florestas tropicais. E o maior exemplo disso somos nós, o Brasil.”
Protagonismo do Brasil
Segundo ele, o Brasil já demonstrou a capacidade de liderar o debate climático global e cita a COP de Paris, em 2015, como exemplo emblemático. “Com a liderança da ex-ministra Isabela Teixeira, nós conseguimos firmar compromissos globais muito importantes e mais do que isso, compromissos que resultaram em evoluções significativas”, recorda.
“O que foi acordado pelo Brasil lá foi o que resultou em uma redução, que variou entre 9% e 11%, das emissões do agronegócio brasileiro, pautada em cima de um modelo de agricultura de baixo carbono”, complementou.
Hoje, o objetivo é transformar casos de excelência em padrões de escala nacional. “O desafio é como transformar a excelência de exemplos que nós temos em vários setores da agropecuária brasileira e também na área de restauração florestal numa média evolutiva para todo o país”, pontua.
Financiamento climático
Entre os temas mais esperados da COP30 está o financiamento climático, e Brito defende uma visão mais pragmática e moderna sobre o assunto. Para ele, o tempo das doações filantrópicas como principal via de financiamento já passou. “Aquele viés antigo de achar que países ricos iriam oferecer gratuitamente capital para financiar o clima não vai acontecer mais.”
O executivo destaca que o novo modelo global é baseado em investimentos com retorno, seja via empréstimos, geração de dívida ou financiamento de projetos rentáveis. “Eu olho para essa nova estruturação do financiamento global com muito mais alegria do que o anterior. Quando você se compromete com o investimento que traz retorno, você realmente quer fazer as transformações necessárias”, argumenta.
Ele afirma que o mundo vive a maior liquidez financeira da história. O desafio agora é organizar a demanda por projetos de impacto. “Não há problema de oferta de capital no mundo, o que falta é a gente organizar a demanda e aqui no Brasil a gente precisa organizar a demanda por esses projetos, principalmente em parcerias público-privadas para dar o compliance necessário para que esse capital possa aterrissar aqui no país.”, explica.
Legados da COP30
Questionado sobre os legados que a COP30 deve deixar, Brito acredita que os benefícios serão múltiplos e não apenas climáticos. “Belém tem um legado urbanístico de todos os investimentos que foram feitos. O estado do Pará, também, por uma série de reformas dos seus instrumentos de logística e infraestrutura também para recepcionar”, aponta.
Mas o principal impacto será nacional. “O grande legado da COP30 é a inserção da economia amazônica dentro da economia brasileira. É o Brasil enxergar que tem na Amazônia um potencial de riqueza monstruoso a ser desenvolvido”, defende.
Essa nova economia, ressalta, já está se desenhando a partir de práticas sustentáveis que unem produção e conservação. “A nova economia verde é possível com integração lavoura-pecuária-floresta, restauração florestal e reestruturação da agricultura brasileira, que caminha tão fortemente em bons exemplos de regeneração, agricultura e na pecuária.”
Com o avanço das práticas sustentáveis e a adoção de sistemas integrados, o Brasil desponta como protagonista na produção de alimentos de baixo carbono. “A faixa tropical do mundo já é a principal fornecedora de alimentos do mundo e vai continuar aumentando a sua relevância. E o Brasil, como líder dessa posição, tem a oportunidade de ser o verdadeiro ponta de lança nessa reestruturação agroambiental”, destaca.
“Eu acho que os legados brasileiros, mais do que qualquer estruturação burocrática, qualquer fundo que seja lançado e aprovado, é mostrar que aqui nós temos uma agropecuária pujante, nós temos um processo de restauração florestal pujante, ou seja, mostrar que a gente está olhando para os modelos econômicos de baixo carbono e até de carbono negativo, e dar nossa contribuição para o mundo nessa questão”, conclui.