ILPF: Integrar para produzir e preservar - Produzindo Certo
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ILPF: Integrar para produzir e preservar

Em rotação, consórcio ou sucessão, estratégia de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) aumenta a produtividade, a renda do produtor rural e traz ganhos socioambientais 

Em rotação, consórcio ou sucessão, estratégia de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) aumenta a produtividade, a renda do produtor rural e traz ganhos socioambientais
Integração de pecuária com produção de eucaliptos (Foto: CNA/Tony Oliveira)

Integrante da Plataforma Produzindo Certo, a Fazenda Schinoca produz grãos, planta eucaliptos e cria gado de corte, assim como muitas na região de Jaciara, no Mato Grosso. De outubro a fevereiro, cultiva soja; a partir de março planta milho e o capim que servirá de pastagem para o gado, que ingressa em julho. O resultado é a atividade durante o ano todo, solo nutrido e alimentação garantida ao gado. A cada ano, três safras são colhidas ali, garantindo mais retorno financeiro à família Schinoca.

A propriedade é adepta da Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), estratégia de produção mais vantajosa para os agricultores com benefícios diretos também para o meio ambiente e a sociedade. O sistema está baseado na intensificação do uso da terra e no aumento da eficiência produtiva para incentivar o desenvolvimento socioeconômico sem comprometer os recursos ambientais.

Há cinco anos, o plantio de eucalipto começou a fazer parte do sistema. As árvores já eram cultivadas, mas não de forma integrada às demais culturas. Hoje, a floresta de eucaliptos forma corredores verdes na propriedade e serve de sombra para o gado. Alinhados a 33 metros de distância cada um, os corredores têm espaço suficiente para a entrada de máquinas agrícolas.

“É um projeto maravilhoso. Os bois nem saem da sombra das árvores, ficam mais confortáveis. E o abate ocorre mais cedo, a média é de 20 meses, e chegamos a 17 meses em alguns casos”, conta o proprietário, Alcindo Jorge Schinoca, 69 anos. Ele não se arrepende do investimento e percebe a diferença não apenas na produção total da fazenda, como também na qualidade. 

“Estou tirando carbono da atmosfera e injetando no solo. E você tem um solo que está sendo coberto, não é uma pastagem degradada. Já foi o tempo de derrubar a mata e jogar capim. Estamos no século 21, agora é tecnologia embarcada em tudo que a gente faz”, ensina Jorge Schinoca que se orgulha também de produzir energia solar suficiente para toda a fazenda, incluindo armazém, secador e a fábrica de ração. 

Em todo o Brasil, modelos de produção integrados estão presentes em 16 milhões de hectares, segundo dados da Rede ILPF. A meta é checar a 30 milhões até 2030.

Não à toa, o crescimento das áreas cultivadas via ILPF é uma das alavancas do compromisso voluntário de redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e de desmatamento assumido pelo governo brasileiro no Acordo de Paris. A tecnologia também faz parte do Plano ABC (Agricultura e Baixa Emissão de Carbono), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). 

Benefícios econômicos

Há diversos modelos de ILPF, como a integração de árvores com pastagens ou lavouras, ou, ainda, a junção dos três componentes na mesma área, como faz Jorge Schinoca na sua fazenda. Como resultado, é possível incrementar a produtividade, diversificar a produção, diluir riscos e gerar produtos de qualidade. A possibilidade de cultivar o ano todo também cria mais empregos no campo.

Além de benefícios à produção e renda para quem vive do campo, as práticas integradas aumentam os serviços ambientais prestados pelo agro. Elas ajudam a conservar recursos hídricos, fixar carbono no solo, fazer o controle biológico de pragas e doenças e ainda reduzem as emissões de GEE na atmosfera. Outro efeito imediato dessa prática é a diminuição da pressão sobre a abertura de novas áreas para produção agropecuária.

Com todas essas vantagens, o aumento do uso de sistemas integrados é uma das armas da agropecuária para fomentar o crescimento econômico mais próspero, inclusivo, resiliente e livre de desmatamento no Brasil. Estudo coordenado pela WRI Brasil e pela New Climate Economy destacou a prática como estratégica para a chamada retomada verde da economia. Segundo os pesquisadores, modelos de produção de alimentos mais sustentáveis podem gerar R$ 19 bilhões a mais em produtividade até 2030, restaurar 12 milhões de hectares de pastagens, reduzir em 40% as emissões de carbono do setor e gerar mais empregos. Desempenho que considera o aumento da produção de grãos e carnes, recuperação de pastagens degradadas e redução do ritmo do desmatamento (leia mais sobre esse estudo aqui).

Aumentar a transferência de conhecimento e tecnologia no campo, com assistência técnica apropriada é um dos desafios para o aumento da escala do modelo. Características regionais também devem ser consideradas na adaptação do sistema, reforçando ainda mais a relevância do apoio técnico especializado. 

A Embrapa é a principal organização de disseminação de conhecimento sobre a prática. Junto a grandes players do agro e do mercado financeiro, ela criou a Rede ILPF para fomentar a intensificação da produção por meio de sistemas integrados. 

Tudo isso, claro, demanda investimentos financeiros. É necessário aumentar significativamente o crédito para escalar o uso de práticas de intensificação produtiva e de tecnologias de baixo carbono. Mas isso também está mudando rapidamente.

Além do Plano ABC, do Mapa, que oferece financiamento com menor custo a agricultores interessados na adoção de projetos de agricultura sustentável, crescem também outros instrumentos para reconhecer e valorizar os esforços de quem produz visando também o retorno socioambiental. 

Entre eles, a atração de investimento privado internacional e a emissão de títulos verdes (green bonds) a partir de um desempenho mais eficiente e de menor impacto socioambiental. Em setembro, a Rede ILPF e um grupo de investidores estrangeiros lançou o SAFF (Sustainable Agriculture Finance Facility), um fundo específico para agricultores brasileiros que adotam práticas produtivas integradas. Por meio de uma parceria-público-privada, o instrumento oferecerá crédito com taxas de juros menores, que se tornam ainda mais vantajosos a medida que o produtor apresente evoluções ao longo do tempo. O fundo terá US$ 68 milhões em 2021, com previsão de alcançar até US$ 1,4 bilhão em 2026.

A Produzindo Certo também está atenta às novas oportunidades de auxiliar o produtor rural na obtenção de financiamentos e seguros agrícolas que reconheçam e valorizem a produção responsável.