A gestão de pessoas se tornou um dos pilares do sucesso da pecuária moderna. Em um setor cada vez mais tecnológico e competitivo, administrar o capital humano com competência e empatia influencia diretamente a rentabilidade e a sustentabilidade da atividade.
Mais do que investir em infraestrutura e genética, pecuaristas que sabem engajar e capacitar suas equipes colhem resultados superiores no manejo diário e na eficiência produtiva.
Uma fazenda com boa gestão de pessoas consegue alinhar processos, reduzir desperdícios e potencializar ganhos zootécnicos e econômicos. Ao mesmo tempo, cria um ambiente de trabalho saudável e atrativo, fundamental para reter talentos em um cenário de êxodo rural e escassez de mão de obra qualificada.
Pesquisas da Embrapa e de consultorias especializadas apontam que a qualidade da gestão interna é determinante para o desempenho das propriedades pecuárias.
Para Miguel Cavalcante, CEO e fundador do Agro Talento e do BeefPoint, fazendas com bom ambiente, possibilidade de crescimento e senso de pertencimento conseguem formar equipes engajadas e até criar “filas de candidatos”.
“A primeira pergunta é: essa fazenda entrega futuro para quem trabalha lá?”, disse ele, durante a live “Gestão de Pessoas: O segredo das fazendas de alta performance”, em abril deste ano.
Novas tecnologias e capacitação
O uso crescente de tecnologias, como balanças digitais, softwares de gestão e sistemas de monitoramento, exige trabalhadores capacitados e bem orientados. Mas não basta contratar profissionais experientes. É preciso investir em treinamento constante, desenvolver habilidades comportamentais e garantir um clima organizacional positivo.
“É importante colocar as pessoas nos lugares certos. As vezes tem aquela pessoa mais analítica que é mais propicia para o escritório, aquela mais ativa atua melhor no campo, e assim por diante”, disse o zootecnista Rodrigo Gennari, consultor do Programa Fazenda Nota 10, em participação no Planeta Campo, do Canal Rural.
Segundo ele, uma boa estratégia para engajar a equipe é criar um sistema de remuneração por metas. “Colocar as metas através dos indicadores. Então, se a equipe bater o GMD (Ganho Médio Diário) esperado ou a taxa de prenhez, ou a taxa de mortalidade, por exemplo, toda a equipe ganha, é algo que funciona muito”, reforçou.
De acordo com especialistas, muitos dos problemas enfrentados em fazendas de corte e leite estão ligados a falhas de comunicação e de liderança. Isso inclui ordens mal repassadas, metas pouco claras e ausência de reconhecimento pelo trabalho executado. Uma gestão bem estruturada evita conflitos, aumenta o engajamento e impulsiona a produtividade do rebanho.
Além disso, quando a equipe entende os objetivos da fazenda e participa ativamente dos processos, a execução de protocolos sanitários, nutricionais e reprodutivos se torna mais precisa. Essa eficiência reflete diretamente nos indicadores econômicos, reduzindo custos e aumentando a margem de lucro por animal.
Estratégias eficazes
A base de uma boa gestão começa no recrutamento. É importante definir com clareza o perfil desejado para cada função, considerando conhecimentos técnicos e habilidades comportamentais. Após a contratação, treinamentos regulares garantem atualização e preparo para lidar com novas tecnologias e práticas de manejo.
A comunicação é outro ponto essencial. Reuniões curtas e objetivas, painéis com indicadores de produção e feedbacks constantes ajudam a manter todos alinhados. Reconhecer conquistas e recompensar bons desempenhos também é uma prática que fortalece a motivação e reduz a rotatividade.
Outro fator é o bem-estar no trabalho. Fornecer alojamentos adequados, equipamentos de segurança, horários equilibrados e oportunidades de crescimento profissional cria um ambiente mais estável e produtivo. Fazendas que investem em qualidade de vida no campo tendem a reter mão de obra e obter melhores resultados econômicos e ambientais.
“Cuide das pessoas para as pessoas cuidarem do resultado da sua fazenda. O resultado são as pessoas que fazem”, dica do zootecnista Ricardo Arantes, sócio diretor da Tri-Comunicação e Treinamento, em participação no MFCast, podcast da MF Rural.
Impactos econômicos e de produtividade
A relação entre gestão de pessoas e desempenho financeiro é direta. Equipes bem treinadas executam manejos reprodutivos e nutricionais com mais precisão, reduzindo perdas e aumentando o ganho médio diário do rebanho. Além disso, um clima organizacional positivo diminui acidentes e custos trabalhistas, ao mesmo tempo em que melhora os índices de produção por hectare.
Essa abordagem estratégica transforma a pecuária em uma operação moderna e eficiente, capaz de se adaptar às exigências de mercado, certificações e padrões de bem-estar animal cada vez mais valorizados por consumidores e indústrias.
Principais dicas para uma boa gestão de pessoas na pecuária:
Invista em treinamentos regulares e capacitação técnica
Ofereça cursos práticos e teóricos sobre manejo, bem-estar animal, uso de tecnologias e segurança do trabalho, atualizando constantemente a equipe.
Implemente um plano de desenvolvimento e crescimento profissional
Crie oportunidades para que o trabalhador visualize evolução na carreira dentro da propriedade, o que aumenta motivação e retenção.
Estabeleça comunicação direta e transparente
Promova reuniões curtas e objetivas para alinhar tarefas, compartilhe resultados e ouça sugestões da equipe, reduzindo erros e mal-entendidos.
Forneça feedback constante e construtivo
Avalie o desempenho com regularidade, destacando pontos fortes e oferecendo orientações claras para melhorar fraquezas.
Monitore o desempenho com indicadores objetivos
Utilize métricas como ganho de peso, taxa de prenhez ou consumo de ração para avaliar a eficiência do trabalho e orientar decisões.
Ofereça condições adequadas de trabalho e bem-estar
Garanta alojamento digno, alimentação balanceada, equipamentos de proteção e jornadas equilibradas, mostrando cuidado com a saúde física e mental da equipe.
