De Reserva (PR) para o mundo: A trajetória de Mateus Lopata no agro sustentável - Produzindo Certo
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De Reserva (PR) para o mundo: A trajetória de Mateus Lopata no agro sustentável

Nascido em Reserva, uma pequena cidade paranaense de pouco mais de 26 mil habitantes, Mateus dos Santos Lopata sempre soube que a vida o levaria além das fronteiras do lugar onde cresceu. “Sempre desbravei tudo. Gosto de viajar, conhecer lugares”, diz com o sorriso de quem aprendeu cedo o valor da coragem e da independência. Ainda na infância, o destino o levou para muito longe dali, mais precisamente para Newark, em Nova Jersey, nos Estados Unidos.

Ele tinha apenas cinco anos quando embarcou com a mãe rumo ao chamado “sonho americano”. O pai já havia partido um ano antes, buscando uma nova chance de vida em tempos difíceis no Brasil. “Minha mãe fez tudo escondido da família. Fez o passaporte, o visto, e foi. Quando chegou lá, ligou pro meu pai e disse: ‘Olha, estou aqui, vim atrás de você’”, recorda.

Foram três anos de descobertas, aprendizados e saudade. Mateus estudou, aprendeu inglês e vivenciou o contraste entre culturas, algo que se tornaria constante em sua trajetória. De volta ao Brasil em 2004, o reencontro com as origens o reconectou às raízes da agricultura familiar e à simplicidade do campo.

Da lavoura às salas de aula

Filho de Edenilson, agricultor, comerciante e ex-vereador, e de Rosenilde, dona de uma coragem admirável, Mateus cresceu entre a lavoura e os livros. “Sempre trabalhei com o meu pai. Era tudo familiar”, lembra. As plantações de feijão, milho, aveia e soja moldaram seu olhar sobre o trabalho duro e o valor da terra.

Mas foi a curiosidade, e não o conformismo, que o guiou. Quando chegou o momento de escolher um caminho, surpreendeu o pai ao dizer que queria estudar. “Eu cheguei e falei, ‘olha, eu quero estudar. Eu tenho vontade, eu gosto’. E aí começou minha trajetória. Só que a vontade dele era que eu fizesse agronomia. Nossa, ele queria muito que eu fizesse agronomia. E, na verdade, eu não queria essa área agrária. Eu sempre fui uma criança muito criativa. Então, meu lado criativo, de imagem, tudo é superdesenvolvido. Me envolvi muito com arte, com música e eu queria fazer arquitetura,” conta.

A arquitetura não veio, mas a ponte com o futuro se construiu pela engenharia ambiental, curso que Mateus escolheu na Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), em Irati (PR). “Eu pensei em fazer só seis meses e depois tentar arquitetura, mas acabei me apaixonando pela engenharia ambiental.”

Foram anos intensos, cheios de descobertas, projetos de extensão e pesquisa científica. A vivência acadêmica ampliou horizontes e despertou nele o desejo de unir técnica e propósito. “A engenharia ambiental te permite trabalhar com muita coisa. Eu vi que era um campo imenso de atuação”.

Um salto de coragem

Quando chegou o momento do estágio, Mateus teve duas opções: ficar perto da família, em Guarapuava, ou atravessar o país rumo ao Mato Grosso, para atuar na BRF, em Lucas do Rio Verde. “Eu pensei: ou eu fico perto dos meus pais ou tomo coragem de sair. E eu fui”, relembra.

Longe de casa e de tudo o que conhecia, ele encontrou no desafio uma escola de vida. “Aprendi muito, cresci demais. Era um choque de realidade, mas também uma oportunidade de amadurecimento.” A experiência na BRF, voltada à gestão de resíduos e efluentes, lhe mostrou na prática a dimensão da sustentabilidade dentro da indústria.

O clima seco e o calor intenso do Centro-Oeste o fizeram retornar ao Sul. “Eu não me via ali no futuro”, admite. Foi então, em um grupo de WhatsApp, que ouviu falar primeira vez o nome Produzindo Certo.

De volta ao Sul, após cinco meses de estágio, Mateus enviou uma mensagem à empresa e, em poucos dias, começou a prestar serviços como especialista em sustentabilidade em Santa Catarina. “Foi minha estreia profissional, eu estava perdido, era muita informação, mas logo entendi o processo. Em seis meses, tudo mudou”, diz.

O aprendizado foi rápido, intenso e transformador. Hoje, ele presta serviços como supervisor de campo, acompanhando especialistas em mais de 200 municípios da região Sul. “A Produzindo Certo me ajudou a evoluir muito, tanto no lado profissional quanto pessoal. Aprendi a me comunicar, a entender que no campo é preciso transformar o conteúdo técnico em algo que o produtor consiga compreender.”

Entre diagnósticos socioambientais e visitas a propriedades rurais, Mateus carrega histórias que o marcaram. “Já me emocionei, já ri, já discuti sobre assuntos importantes. Cada encontro ensina algo novo. É muito gratificante ver o quanto os produtores estão dispostos a aprender e a mudar.”

Um olhar sensível sobre a vida

Mateus com os pais, dona Rosenilde e seu Edenilson, e a irmã Beatriz

Fora do campo, Mateus se define como alguém criativo, curioso e cheio de paixões. “Meus hobbies incluem de tudo um pouco, menos academia”, brinca. Ele gosta de cozinhar, criar arte, desenhar, jogar videogame e viajar. “Sou apaixonado por uma cerveja e por uma boa comida gordurosa. E adoro assistir séries de ficção.”

Morar sozinho em Santa Catarina também foi uma virada de chave. Foi ali que conheceu Vinícius, seu parceiro, também engenheiro ambiental. “A gente chegou praticamente no mesmo dia aqui. Ele é carioca, estava perdido em Santa Catarina, e hoje já estamos há dois anos juntos”, conta.

Entre risos e lembranças, Mateus fala com serenidade sobre o que aprendeu com os pais: a resiliência e a capacidade de recomeçar. “Eles sempre se viraram sozinhos. Aprendi com eles a batalhar, a ir atrás do que quero.”

Sonhos em construção

A mente inquieta de Mateus já planeja os próximos passos. “São tantos. Porque eu sou uma pessoa neurodivergente. Eu tenho TDAH. Então, a minha cabeça é assim, uma loucura. Eu tenho tantos sonhos que vêm aparecendo. Mas um deles é de um dia poder ir morar no Canadá. Sou apaixonado pela cultura de lá, pelo local, pelo clima”.

Além disso, também deseja fazer mestrado e quem sabe um dia cursar arquitetura. “Ainda quero chegar a dar aula em universidade. A área de pesquisa eu acho que seria alguma coisa mais voltada a construções sustentáveis. Uma coisa que me chama muito a atenção na parte da arquitetura”.

Com 29 anos, ele não tem pressa. “Penso talvez em casar, mas ainda não sei. Acho que sou muito novo”, diz com a serenidade de quem compreendeu que cada fase da vida tem seu tempo de florescer.

Sua trajetória é exemplo de como a curiosidade, a coragem e o afeto constroem histórias que inspiram. No campo e na vida, ele segue cultivando o que aprendeu com o pai: que tudo germina quando se planta com dedicação e propósito.

Mateus e seu companheiro Vinícius