A agropecuária brasileira, frequentemente associada às emissões de gases de efeito estufa, vem provando que também é parte essencial da solução climática. A pecuária de baixo carbono já é adotada por um número crescente de produtores no país e se firma como um caminho estratégico para unir produtividade e sustentabilidade.
Esse avanço coloca o Brasil em evidência no cenário internacional, pois o país reúne condições naturais, conhecimento técnico e programas estruturados capazes de impulsionar uma produção mais eficiente e responsável. A lógica é clara: animais bem manejados, pastagens recuperadas e sistemas integrados resultam em mais carne produzida com menor impacto ambiental.
“Iniciativas como sistemas integrados de produção (ILPF, ILP), pastejo rotacionado, melhoramento genético, nutrição balanceada e recuperação de pastagens degradadas não apenas aumentam a produção por hectare como reduzem a emissão de gases de efeito estufa por quilo de carne produzida”, afirma Ana Doralina Menezes, presidente da Mesa Brasileira da Pecuária Sustentável (MBPS), em seu artigo A pecuária como protagonista da agropecuária de baixo carbono.
Ela acrescenta que os números são promissores: “Segundo estimativas da FGV, a adoção em larga escala dessas práticas pode reduzir mais de 50% das emissões da pecuária de corte até 2050. Já não é mais uma questão de potencial: é uma realidade comprovada no campo”.
Essa mudança de perspectiva reforça que a pecuária de baixo carbono não é uma meta distante, mas uma estratégia consolidada, baseada em ciência, inovação e compromisso com a sustentabilidade. Além de diminuir o impacto ambiental, a adoção de boas práticas garante redução de custos, maior produtividade e acesso a mercados que valorizam produtos de origem responsável.
“Mais carbono fixado significa mais água, mais nutrientes, biodiversidade, mais dinheiro. O carbono é um indicativo da eficiência do sistema. Emitir muito gás é indicativo de ineficiência”, explicou o pesquisador Roberto Giolo, da Embrapa Gado de Corte, em matéria publicada no portal da Embrapa.
Práticas de pecuária de baixo carbono
Para alcançar esses resultados, algumas estratégias têm se mostrado essenciais. Entre as principais estão:
Sistemas integrados (ILPF e ILP)
A integração lavoura-pecuária-floresta ou lavoura-pecuária permite diversificar a produção e melhorar o uso do solo. Esse modelo aumenta a fertilidade, melhora o sequestro de carbono e eleva a produtividade por hectare.
Pastejo rotacionado
O manejo das áreas de pastagem em piquetes, com períodos de descanso e uso planejado, garante a recuperação da vegetação, melhora a qualidade do solo e otimiza o ganho de peso dos animais.
Melhoramento genético
A seleção de animais mais eficientes no uso de nutrientes e na conversão alimentar contribui para reduzir emissões e elevar a produtividade da carne.
Nutrição balanceada
Dietas ajustadas com suplementação adequada reduzem a emissão de metano pelos animais e permitem ganhos de peso mais rápidos, diminuindo o tempo de abate.
Recuperação de pastagens degradadas
A restauração de áreas comprometidas aumenta a capacidade de suporte, melhora a infiltração de água e favorece o estoque de carbono no solo, reduzindo a necessidade de abertura de novas áreas.
Uso de biodigestores
A captura e o tratamento do biogás gerado pelos dejetos animais permitem transformá-lo em biocombustível, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa e gerando energia renovável para a propriedade.
Rações com menor impacto ambiental
A formulação de dietas com aditivos específicos diminui a fermentação entérica e reduz a emissão de metano pelos animais, ao mesmo tempo em que melhora a eficiência alimentar.
Iniciativas que apoiam o produtor
A transição para uma pecuária de baixo carbono não precisa ser feita de forma isolada pelo produtor. Hoje, o Brasil conta com políticas públicas, programas de pesquisa e protocolos que oferecem suporte técnico, científico e mercadológico para que os pecuaristas avancem rumo a sistemas mais sustentáveis. Essas iniciativas reduzem barreiras, ampliam o acesso a informações e criam condições para que a carne brasileira conquiste novos patamares de competitividade.
Plano ABC+
Criado pelo governo federal, o Plano ABC+ é hoje a principal política pública voltada para práticas agropecuárias de baixa emissão. Ele incentiva tecnologias como integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), manejo de dejetos animais e recuperação de pastagens. Mais do que uma diretriz, tornou-se uma ferramenta essencial para ampliar a adoção da pecuária de baixo carbono no país.
Protocolo Carne Baixo Carbono (CBC)
O Protocolo Carne Baixo Carbono (CBC), desenvolvido pela Embrapa em parceria com outras instituições, estabelece critérios técnicos para que a carne produzida no Brasil seja reconhecida como de baixa emissão de carbono. Ao garantir rastreabilidade e transparência, o protocolo amplia a credibilidade da pecuária nacional e abre portas para mercados internacionais que exigem comprovação de práticas sustentáveis.
Rede ILPF
A Rede ILPF é uma parceria entre instituições públicas e privadas com foco na expansão e no aperfeiçoamento da integração lavoura-pecuária-floresta no Brasil. Atuando como plataforma de difusão de conhecimento, a rede oferece capacitação, assistência técnica e projetos que demonstram na prática os benefícios do sistema.
Para saber mais:
- Guia para a produção de carne baixo carbono: aplicação do protocolo Carne Baixo Carbono (CBC) da Embrapa
- Cartilha do Projeto Pecuária ABC – Ministério da Agricultura
- Matérias relacionadas ao tema na editoria Faça Certo, do Portal da Produzindo Certo