Agrofloresta transforma manejo na Fazenda Mata do Lobo - Produzindo Certo
Publicado em
Agrofloresta transforma manejo na Fazenda Mata do Lobo

O campo sempre fez parte da vida da engenheira agrônoma Maria Vitória Vasconcelos. Filha e neta de produtores rurais, ela cresceu entre lavouras e rebanhos, e desde 2015 atua na Fazenda Mata do Lobo, em Rio Verde (GO), ao lado do pai, irmão e do marido. Ali, a produção de grãos se mantém forte em 2.500 hectares cultivados com soja e milho, mas um novo modelo de agricultura vem ganhando protagonismo na propriedade: a agrofloresta.

O projeto agroflorestal ocupa hoje 30 hectares da área da fazenda e deve chegar a 50 hectares nos próximos anos. É nele que Maria Vitória conduz um sistema sintrópico de produção de cafés especiais sob certificação orgânica.

“Temos trabalhado pensando na qualidade dos grãos para conseguirmos agregar valor ao produto e alcançar o mercado de cafés especiais, onde o consumidor, além de valorizar a qualidade do produto, leva em consideração também a maneira como os grãos foram produzidos”, conta. Desde 2017, os grãos colhidos no sistema têm dupla certificação: Orgânicos do Brasil e EOS (certificação europeia).

Além do café, o modelo de cultivo gera madeiras nobres, estoque de carbono e aumenta a biodiversidade na região. Diversos animais já foram registrados na agrofloresta da fazenda pelo Instituto Federal Goiano, como a onça-parda, o lobo-guará e o tamanduá-bandeira.

Diversificação e resiliência

A escolha pela agrofloresta veio acompanhada de mudanças profundas no modo de produzir. “Essa experiência nos transformou como agricultores. Percebemos que existem possibilidades de produzir com menos dependência de insumos, trabalhando a favor dos processos naturais e não contra eles”, afirma.

A prática também trouxe mais segurança e resiliência. A diversidade de culturas protege a lavoura de perdas em tempos de crise climática e cria um ambiente mais equilibrado para o solo, as plantas e os animais. Mudamos nosso olhar principalmente para a biologia do solo, temos reduzido significativamente a utilização de agroquímicos e adubos químicos”, diz.

Certificação e agricultura regenerativa

Além do sistema agroflorestal certificado como orgânico, toda a produção de soja e milho da fazenda tem, desde 2015, o selo da RTRS (Round Table on Responsible Soy Association), uma das certificações mais reconhecidas do setor. Para Maria Vitória, esse foi um divisor de águas na gestão da propriedade.

“A RTRS nos trouxe um olhar profissional para as estruturas da fazenda e para os processos produtivos. Nos vemos agora muito mais organizados e atentos as demandas da legislação e nos sentimos valorizados por atender os padrões necessários”, conta orgulhosa.

O impacto das certificações vai além do campo. Segundo ela, quando bem estruturado, o processo também traz retorno financeiro e reconhecimento de mercado.

“É muito importante que a certificação traga um benefício econômico direto para o produtor, é esse benefício que vai valorizar o trabalho diferenciado que é realizado e motivar as transformações que precisam acontecer para se pensar em uma agricultura mais sustentável”, destaca Maria Vitória.

Menos insumo, mais conhecimento

A evolução do modelo de produção na Fazenda Mata do Lobo foi construída com base em muito estudo e capacitação. “Percebendo essa nova demanda técnica, buscamos formação. Fizemos cursos de compostagem, plantas de cobertura, multiplicação de microrganismos on farm, etc. Investimos no que entendemos ser nosso insumo mais importante: o conhecimento”, detalha.

A prática regenerativa, que começou na agrofloresta, já está sendo incorporada também às áreas de monocultura de grãos. A família tem reduzido significativamente o uso de agroquímicos e fertilizantes químicos, com foco na biologia do solo e em sistemas mais sustentáveis.

Além da Mata do Lobo, a família também conduz Fazenda Paraíso do Rio Preto (as duas são vizinhas), com foco na produção de grãos e na certificação RTRS. As atividades são integradas e seguem os mesmos princípios de manejo responsável.

“Me orgulho de olhar para o nosso trabalho, para onde estamos vivendo, e perceber que estamos em um lugar melhor do que quando chegamos. Tanto para nós quanto para as plantas, os animais, para as pessoas”.