A próxima colheita começa com um bom Plano Safra - Produzindo Certo
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A próxima colheita começa com um bom Plano Safra

A construção do Plano Safra 2025/2026 já está em curso e mobiliza, mais uma vez, as principais vozes do agronegócio brasileiro. Enquanto o governo federal trabalha na elaboração do novo pacote de crédito rural, entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) apresentam ao Ministério da Agricultura e Pecuária propostas robustas e detalhadas, buscando garantir que o próximo ciclo atenda às reais demandas do campo.

Com o anúncio oficial previsto para as próximas semanas, cresce a expectativa em torno da definição de taxas, limites de financiamento e prioridades de investimento. O momento é de articulação, e o setor produtivo tem reforçado a necessidade de um plano mais inclusivo, moderno e eficiente.

As propostas da CNA, apresentadas no início de abril, trazem um pedido de R$ 594 bilhões em recursos para a próxima safra, incluindo R$ 390 bilhões para custeio e comercialização, R$ 101 bilhões para investimentos e R$ 103 bilhões voltados à agricultura familiar.

A entidade defende ainda um aumento expressivo no orçamento do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), passando dos atuais R$ 1 bilhão para R$ 4 bilhões, além da aprovação de projetos estruturantes, como o PL 2951/2024, que busca modernizar o seguro rural, com a transferência dos recursos do PSR às Operações Oficiais de Crédito, operacionalização do Fundo Catástrofe e melhoras no ambiente de negócios da ferramenta.

Outros pontos destacados incluem o fortalecimento de linhas como o Pronaf, Pronamp, Inovagro e Renovagro, e a revisão dos limites de renda para acesso ao crédito.

A CNA também propõe incentivos para produtores que adotarem práticas socioambientais sustentáveis e medidas para melhorar o ambiente de negócios, como a redução da burocracia e o estímulo ao uso do mercado de capitais como fonte complementar de financiamento.

“É um conjunto de propostas que tenta equilibrar previsibilidade, segurança e estímulo à inovação. O setor rural tem mostrado resiliência e capacidade de adaptação, mas precisa de condições mais estáveis e taxas mais competitivas para continuar crescendo”, pontua Thiago Brasil, CFO da Produzindo Certo.

“Com a taxa Selic atingindo o patamar de 14.75% a.a (copom de 07/05) e com a possibilidade de novos aumentos, a participação do crédito livre no financiamento das atividades deve aumentar.  O Governo está com o fiscal pressionado, portanto não existe muito espaço para grandes desembolsos para equalização de juros”, completa ele.

Propostas da FPA

A FPA, por sua vez, defende uma revisão estrutural do modelo atual de financiamento do agro. Em documento entregue no dia 29 de abril ao governo federal, a Frente propõe um novo desenho para o Plano Safra, com maior participação de recursos privados, redução dos custos acessórios do crédito rural e foco em segurança jurídica para atrair investimentos de longo prazo.

Um dos principais pontos é o reconhecimento de que o crédito oficial, sozinho, não será suficiente para atender a todas as necessidades do setor nos próximos anos. Por isso, a proposta sugere um plano de transição para ampliar o uso de garantias privadas, títulos do agronegócio e instrumentos como o Fiagro.

“Estamos entregando um plano que representa o consenso entre as entidades do setor. Queremos simplificar processos e eliminar burocracias desnecessárias”, disse o deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), coordenador institucional da FPA.

Outro destaque da proposta é a criação de uma política agrícola plurianual, inspirada na Farm Bill dos Estados Unidos, para garantir previsibilidade orçamentária e estabilidade ao setor durante o período de cinco anos.

A construção de um plano que reflita o campo real

O Ministério da Agricultura, em articulação com o Ministério da Fazenda, já vem realizando projeções técnicas e reuniões com o setor produtivo. Entre os temas em discussão estão a manutenção de juros atrativos para médios produtores, o aprimoramento do seguro rural e iniciativas para destravar o investimento verde, como o recém-anunciado Eco Invest Brasil, voltado à conversão de pastagens degradadas.

A agenda climática, aliás, deve seguir como um dos pilares do plano, atendendo aos compromissos internacionais do Brasil e ao crescente interesse de investidores em cadeias produtivas sustentáveis.

“A conexão entre crédito e sustentabilidade é uma realidade sem volta”, afirma Thiago Brasil. “A Produzindo Certo já observa isso no dia a dia das propriedades com as quais trabalha. Bons indicadores socioambientais têm potencial de abrir portas para financiamentos mais vantajosos, a exemplo da redução de até 1% na taxa de juros para os recursos de custeio do Plano Safra. Mas é preciso construir instrumentos que sejam acessíveis e viáveis para todos os perfis de produtor.”

O Plano Safra 2025/2026 será lançado em um contexto desafiador: com custos de produção em alta, aumento do risco climático, flutuação de preços e pressão por mais sustentabilidade. Por isso, as decisões tomadas agora podem definir o ritmo da próxima temporada e o fôlego de longo prazo do setor.

Chegar a um plano equilibrado, que combine recursos públicos e privados, amplie o acesso a seguros e valorize práticas sustentáveis, é mais do que necessário — é estratégico para o agro brasileiro continuar sendo competitivo, diverso e protagonista.

“Precisamos de um plano competitivo, que fomente a inovação e o investimento e que ofereça as ferramentas certas para que cada produtor possa crescer com mais previsibilidade”, conclui Thiago Brasil.

Fontes:

Mapa

CNA

FPA